Exercícios Físicos e Diabete

Dr. Nabil Ghorayeb
ghorayeb@cardiol.br

A doença Diabete é aquela em que o açúcar circulante no sangue (glicemia), fonte básica de energia do organismo está elevada, ou seja, em jejum acima de 100 mg/dl e duas horas após uma refeição habitual, a glicemia está alterada, ultrapassando 140 mg/dl. É uma também uma doença crônica como a hipertensão arterial e na maioria dos casos considerada como herança genética, podendo ter outras causas adquiridas como alcoolismo, viroses etc. Hoje é a oitava maior causa de morte no mundo. Temos em geral dois tipos comuns de diabete, aquela que precisa de injeções de insulina (Tipo I) e a que se controla com dieta e medicamentos por boca (Tipo II).

Vamos ao nosso tema, o exercício para o diabético. Considerado fundamental no tratamento do paciente com diabete, ajuda na perda de peso, leva a um melhor "equilíbrio" na metabolização dos carboidratos e açúcar, além de ter efeito protetor para o coração, através da redução do colesterol e do melhor controle quando está associada à pacientes com hipertensão arterial. Por outro lado, na realização de exercícios por pacientes que usam medicamentos orais ou insulina, poderão ocorrer hipoglicemias (queda do nível de glicemia abaixo do mínimo 70 mg/dl. nível mínimo normal de açúcar no sangue.

Isto se deve ao que, essas medicações não permitirem o aumento fisiológico da glicose no sangue ou de sua utilização pelos tecidos, fato necessário ao organismo quando em atividade física. Portanto, a atividade física em diabéticos em uso de medicação deve ser cuidadosamente supervisionada e os responsáveis pela orientação dos exercícios devem saber exatamente o que o nosso esportista em treinamento está tomando. Uma tática para evitar a ocorrência da hipoglicemia é nunca fazer exercícios em jejum e "fracionar" a sua dieta habitual, isto é em 5 a 6 pequenas refeições por dia. Várias são as conseqüências do diabetes para o sistema cardiovascular. Agride as paredes internas das artérias, aqueles vasos que levam sangue ao cérebro (carótidas), coração (coronárias), rins (artérias renais), artérias dos braços e pernas olhos, etc. Com isso leva à ocorrência, respectivamente, da angina ou do infarto, dos acidentes vasculares cerebrais, de insuficiência renal crônica, cegueira. Nos pacientes diabéticos, a maior causa de morte é por obstruções das coronárias, isto é, das artérias que nutrem o coração. O tempo de duração do diabetes é mais importante no desenvolvimento da doença coronariana do que gravidade do diabete, pois leva ao aparecimento ou agravamento de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares como aumentar os níveis de colesterol no sangue, acompanhar uma hipertensão pré-existente ou levar a aumento de pressão arterial secundária a insuficiência renal(uremia). Um dos maiores fatores de risco para o aparecimento do diabetes tipo II é a obesidade que, por sua vez, também é um fator de risco independente para a doença cardiovascular.


Até breve, nghorayeb@terra.com.br

Teste o seu coração

Faça o cálculo e veja o quanto você já gastou com o cigarro.


Faça o Teste de Risco Coronariano, em poucos segundos é possível verificar o que mudar em seus hábitos para ter uma vida saudável.


Saiba se você está dentro do peso ideal fazendo o Cálculo do Índice de Massa Corpórea.


Verifique a sua Estimativa de Risco Coronariano em 10 anos.



Seu coração está em dia? Confira aqui!







Colesterol Níveis Desejáveis

Acesse a cartilha completa e conheça mais sobre os fatores de riscos cardiovasculares.
Clique aqui.

Total (md/dL) <>
LDL (mg/dL) <>
HDL (mg/dL) Homens > 40
Mulheres > 50











Triglicérides Níveis Desejáveis
Visite o site do Programa PrevenAção e conheça mais sobre as ações realizadas pela SBC!
(mg/dL) <>






Glicemia em Jejum Níveis Desejáveis


(mg/dL) ≤ 100





Consulte nossas “Receitas Saudáveis” e mantenha uma alimentação adequada.




Pressão Arterial Valores Adequados
(mmHg) 130 x 80 (13 por 8)












Circunferência
Abdominal
Homens Mulheres
(cm) ≤ 90 cm ≤ 80 cm


Por gentileza acesse o Link:
http://prevencao.cardiol.br/testes/

O músculo transverso abdominal e sua função de estabilização da coluna lombar

Klíssia Mirelli Cavalcanti Gouveia. Ericson Cavalcante Gouveia.


INTRODUÇÃO

A estabilidade da cintura pélvica e da coluna lombar tem uma grande importância no equilíbrio corporal. A pelve transmite as forças do peso da cabeça, do tronco e das extremidades superiores e as forças ascendentes dos membros inferiores. Enquanto a coluna lombar é a principal região do corpo responsável pela sustentação das cargas (1). Além disso, a fáscia tóraco-lombar e suas potentes inserções musculares também possuem uma função relevante na estabilização da região lombopélvica (2, 3).
Os músculos do tronco são divididos em dois grupos: os músculos profundos, que são os oblíquos internos, o transverso abdominal e os multífidos; e os músculos superficiais, que são os oblíquos externos, os eretores espinhais e o reto abdominal. Todas essas musculaturas, de uma forma geral, contribuem para o suporte da coluna vertebral e da pelve. Porém, especificamente, os músculos abdominais possuem um importante papel na estabilização da coluna lombar e da cintura pélvica (4, 5, 6).
Segundo Norris (7), o músculo reto abdominal é o principal flexor do tronco; os músculosoblíquos internos e externos, além de participarem da flexão, têm funções, de acordo com a orientação de suas fibras, de rotação, inclinação lateral e estabilidade durante o exercício abdominal (8, 9).

O músculo transverso do abdome é circunferencial, localizado profundamente e possui inserções na fáscia tóraco-lombar, na bainha do reto do abdome, no diafragma, na crista ilíaca e nas seis superfícies costais inferiores (10). Por conta das suas características anatômicas, como a distribuição de seus tipos de fibras, sua relação com os sistemas fasciais, sua localização profunda e sua possível atividade contra as forças gravitacionais durante a postura estática e a marcha, possui uma pequena participação nos movimentos, sendo um músculo preferencialmente estabilizador da coluna lombar (11).

Como os músculos abdominais possuem relevância na estabilização da região lombopélvica,a diminuição da atividade destes músculos faz com que a flexão do quadril seja realizada sem a estabilidade necessária, permitindo que o músculo psoas exerça tração sobre o aspecto anterior das vértebras lombares, levando a uma anteversão pélvica e um aumento da lordose lombar (12). Com o passar do tempo, os tecidos podem se adaptar a essa nova postura, que frequentemente está associada a uma série de disfunções, entre elas: a espondilolistese e as degenerações discais e facetárias (13).

Uma das queixas mais comuns da população é a lombalgia, segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 80% dos adultos terão pelo menos uma crise de dor lombar durante a sua vida, e 90% destes apresentarão mais de um episódio. A lombalgia é a causa mais comum de absenteísmo no trabalho nos países desenvolvidos, causando além de um problema médico, um déficit econômico (14).

Em indivíduos que não possuem lombalgia, conforme Hodges e Richardson, o transverso do abdome é ativado antes do início dos movimentos dos membros. Por ser esse músculo uma estrutura essencial para estabilizar a coluna lombar, a teoria atual preconiza que ao realizar exercícios para a parede abdominal seja enfatizado o recrutamento específico do transverso do abdome, em vez de fortalecimento e endurance gerais (12). Portanto, a identificação do desequilíbrio da musculatura da parede abdominal pode permitir sua correção, podendo evitar ou minimizar estas modificações posturais. O presente trabalho teve por objetivo abordar sobre o músculo transverso do abdome e a sua função de estabilização da coluna lombar.

A estabilização vertebral

A estabilidade vertebral depende da integração entre 3 elementos: o sistema passivo que consiste dos corpos vertebrais, articulações facetarias, cápsulas articulares, ligamentos espinhais, discos intervertebrais e participam da estabilização por meio das propriedades viscoelásticas; o sistema ativo, o qual é constituído dos músculos espinhais e seus tendões; e o controle neural que recebe informações dos sistemas passivo e ativo, por meio dos receptores, e tem o papel de captar as alterações de equilíbrio e determinar os ajustes específicos, por meio da musculatura da coluna, restaurando a estabilidade (15).

Quando um desses sistemas falha os outros dois se reorganizam para dar continuidade a homeostase. Porém, muitas vezes, essa reorganização é inadequada sobrecarregando os subsistemas, promovendo uma cronicidade da disfunção-instabilidade vertebral (15, 16).
O músculo transverso abdominal O transverso abdominal foi considerado um importante estabilizador da coluna lombar a partir do conhecimento da sua relação com a fáscia tóraco-lombar e a pressão intra-abdominal, e da participação destas na estabilidade lombar (17). A partir desse momento, outros trabalhos foram realizados, relacionando os músculos que possuem suas inserções na coluna vertebral como geradores de estabilidade desta estrutura. Acreditando-se que o transverso do abdome possui um papel de destaque em relação aos outros músculos abdominais (15, 18, 19).

Pesquisas dos músculos abdominais profundos, através de eletromiografia, mostraram que o transverso abdominal é o principal músculo gerador da pressão intra-abdominal (12, 20). O aumento da pressão no interior do abdome e na tensão da fáscia tóraco-lombar ocorre com a contração do músculo transverso, que resulta em uma diminuição da circunferência abdominal, devido à orientação horizontal das suas fibras (21, 22). Por meio deste mecanismo, há uma redução na compressão axial e nas forças de cisalhamento e uma transmissão destas em uma área maior, promovendo uma maior estabilidade à coluna durante o levantamento de cargas elevadas (22).

Vários estudiosos demonstraram que os músculos que possuem maior função estabilizadorasão os multífidos, transverso abdominal e oblíquo interno agindo em co-contração, principalmente na antecipação de cargas aplicadas (12, 23, 24).
Por meio de um estudo eletromiográfico, Hodges e Richardson (25), constataram que o músculo transverso abdominal é o primeiro músculo a ser ativado durante movimentos dos membros, concluindo que este músculo é fundamental para a estabilização segmentar. Portanto, ao antecipar-se ao movimento produzido pela ação do agonista, o transverso abdominal atuaria promovendo uma rigidez necessária à coluna lombar, evitando qualquer instabilidade geradora de dor lombar (16, 20, 26).

Em indivíduos sãos, o transverso do abdome, para proteger a coluna, contrai-se antes dos movimentos das extremidades. Nos lombálgicos esta contração falha antes dos movimentos, demonstrando uma alteração na coordenação desse músculo (27). O atraso no início da contração do transverso abdominal indica um déficit do controle motor e resulta em uma estabilização muscular ineficiente da coluna (28).

Existem evidências que comprovam que a musculatura profunda do abdome, especialmente o transverso abdominal e multífido, é afetada na presença de dor lombar e instabilidade segmentar (28). Com a disfunção local ocorre uma substituição compensatória de músculos globais, que pode ser explicada pela tentativa do sistema neural em manter a estabilidade por meio da solicitação dos músculos globais (29).

Treinamento específico

Conforme Hodges (20), o transverso abdominal deve ser treinado separadamente dos outros músculos pelo fato dele ser o principal músculo afetado na lombalgia, perdendo sua função tônica.
Ainda, segundo Richardson (30), a contração do transverso abdominal, por meio de exercício específico, reduz significantemente a frouxidão da articulação sacroilíaca. Este achado, segundo o autor, confirma que o uso de contrações independentes deste músculo é útil para a lombalgia.
Corroborando com Hides (31), que por meio da ressonância Magnética, demonstrou que durante
a ação de abaixamento do abdome, o transverso abdominal bilateralmente forma uma banda músculofascial que pressiona o abdome, como um espartilho, e desenvolve a estabilização da região lombopélvica.

Pesquisas realizadas na Austrália mostraram que pacientes com dor lombar, embora tenham sido tratados por várias terapias, possuem algo em comum: os multífidus e transverso do abdome estão fracos. Eles também tem excesso de atividade dos músculos globais, como eretor da espinha e abdominais superficiais (32).

Antigamente, os programas de exercícios focavam os músculos globais mobilizadores como os exercícios abdominais ou de extensão da coluna. Porém, sem os estabilizadores fortes, estes não reduziriam as dores e ainda seriam lesivos, já que normalmente comprimem excessivamente as articulações. As pesquisas atuais demonstram que é necessário ativar os estabilizadores primeiro, por meio de exercícios sutis, precisos e específicos, o que impede um processo lesivo da coluna, assim como a redução da reincidência das disfunções espinhais (27, 32, 33).

Em 1995, Richardson já estabelecia a reeducação do transverso do abdome em pacientes com dor lombar, com bons resultados (11). O´Sullivan, em 1997, realizou um estudo comparando pacientes com lombalgia que utilizavam exercícios específicos baseados no trabalho de Richardson e outros com tratamentos diversos e exercícios gerais supervisionados (27). Obtendo melhores resultados no primeiro, apontando efetividade na reeducação do transverso abdominal. O mesmo autor, em 2000, utilizou os mesmos princípios de treinamento, comparando padrões de instabilidade lombar, e obteveresultados excelentes (29).

Os efeitos a longo prazo (1 a 3 anos) dos exercícios específicos, comparados com pacientes que utilizavam fármacos, foram analisados por Hodges. Uma menor recorrência de dor lombar foi observada no primeiro grupo (de 30 a 35%), em relação ao segundo (de 75 a 84%), comprovando a eficácia dos exercícios específicos para essa enfermidade (20).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que o músculo transverso possui outras funções em relação à respiração e em associação com os músculos pélvicos, porém não foi abordado por não ser objetivo da pesquisa. O estudo esclareceu e reforçou a função do músculo transverso abdominal de estabilizador lombar, a sua relação com a lombalgia e a importância de um treinamento mais específico para melhor executar a sua função.

Embora, tenham sido encontrados artigos bastante relevantes neste assunto, faz-se necessária a realização de pesquisas de caso-controle ou de coorte com amostras estatisticamente significantes, para melhor entendimento das funções do músculo transverso abdominal e com isso a utilização de exercíciosespecíficos e efetivos no tratamento da lombalgia que acomete uma grande parcela da população.


REFERÊNCIAS
1. Hall CM, Brody LT. Exercício terapêutico: na busca da função. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2001.
2. Macintosh J, Bogduk N, Gracovetsky S. The biomechanics of the toracolumbar fascia. Clin
Biomech. 1987;(2):78-83.
3. Vleeming A, Pool Goudzar A, Stoeckart R. The posterior layer of the toracolumbar fascia: its
function in load transfer from spine to legs. Spine. 1995;20(7):753-758.
4. Cholewicki J, Mcgill SMN. Mechanical stability of the in vivo lumbar spine: implications for
injury and chronic low back pain. Clin Biomech. 1996;11(1):1-15.
5. Granata KP, Wilson SE. Trunk posture and spinal stability. Clin Biomech. 2001;16(8):650-659.
6. Cholewicki J, Vanvliet JJ. Relative contribution of trunk muscles to the stability of the lumbar
spine during isometric exertions. Clin Biomech. 2002;17(2):99-105.
7. Norris CM. Abdominal muscle training in sport. Br Journal Sports of Medicine. 1993;27(1):17-28.
8. Mirka GA. Selective recruitment of external oblique during axial torque production. Clin
Biomech. 1997;(67):1213-1217.
9. Kapandji AI. Fisiologia articular: tronco e coluna vertebral. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2000. v. 3.
10. Dangelo JG. Anatomia humana básica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2002.
11. Richardson CA, Jull GA. Muscle Control, pain control. What exercises would you prescribe?
Manual Therapy. 1995;1(1):1-2.
12. Hodges PW, Richardson CA. Inefficient muscular stabilization of the lumbar spine associated with
low back pain. A motor evaluation of transverses abdominis. Spine. 1996;21(22):2640-2650.
13. Scannell JP, Mcgill S. Lumbar Posture: Should It, and Can It, Be Modified? A study of passive
tissue stiffness and lumbar position during activities of daily living. Physical Therapy.
2003;83(10):907-917.
14. World Gate Brasil. O que você precisa saber sobre dor nas costas [Internet]. 2004. [Acesso
2007 ago 17]. Disponível em: .
15. Panjabi M. The stabilizing system of the spine. Part I. Function, dysfunction, adaptation, and
enhancement. J Spinal Disord. 1992;5(4):383-389.
16. Panjabi M. Clinical spinal instability and low back pain. J. Electromyogr. Kinesiol.
2003;13(4):371-379.
17. Tesh KM, Dunn JS, Evans, JH. The abdominal muscles and vertebral stability. Spine. 1987;
22(15):501-508.
18. Bergmark A. Stability of lumbar spine. A study in mechanical engineering. Acta Orthop. Scand.
1989;230(Suppl 1):1-54.
19. Wright A, Sluka KA. Nonpharmacological treatments for musculoskeletal pain. Clin J Pain.
2001;17(1):33-46.
20. Hodges P. Is there a role for transverses abdominis in lumbo-pelvic stability? Manual Therapy.
1999;4(2):74-86.

21. Cholewicky J, Juluru K. Intra-abdominal pressure mechanisms for stabilization the lumbar
spine. Journal of Biomechanics. 1999;32(1):13-17.
22. Norris CM. Stabilisation 3. Stabilisation mechanisms of the lumbar spine. Physiotherapy.
1995;81(2):72-79.
23. Hides J, Stokes MJ, Saide M. Evidence of lumbar multifidus muscle wasting ipsilateral to
symptoms in patients with acute/sucbacute low back pain. Spine. 1994;19(2):165-172.
24. O´Sullivan P, Twomey L, Allison GT. Altered abdominal muscle recruitment in patients with
chronic back pain following a specific exercise intervention. J Orthop Sports Phys Ther.
1998;27(2):114-124.
25. Hodges PW, Richardson CA. Contaction of the abdominal muscles associated with movement
of the lower limb. Phys Ther. 1997;77(2):132-142.
26. Kaigle AM, Holm SH, Hansson TH. Experimental instability in the lumbar spine. Spine. 1995;
4(20):421-430.
27. O´Sullivan PB, Phyty GD, Twoney LT, Alison GT. Evaluation of specific stabilizaing exercise
in the treatment of chronic low back pain with radiologic diagnosis of spondylolysis or
spondylolisthesis. Spine. 1997;22(24):2959-2967.
28. Hides J, Richardson C, Jull G. A multifidus muscle recovery is not automatic after resolution
of acute, first episode low back pain. Spine. 1996;21(23):2763-2769.
29. O´Sullivan PB. Lumbar segmental “instability”: clinical presentation and specific stabilizing
exercise management. Manual Therapy. 2000;5(1):2-12.
30. Richardson CA, Snijders CJ, Hides JA, Damen L, Pas MS, Storm J. The relationship between
the transversus abdominis muscles, sacroiliac joint mechanics, and low back pain. Spine. 2002;
27(4):399-405.
31. Hides J, Wilson S, Stanton W, McMahon S, Keto H, McMahon K, et al. An MRI investigation
into the function of the transversus abdominis muscle during “drawing-in” of the abdominal
wall. Spine. 2006;31(6):E175-178.
32. Comerford MJ, Mottram SL. Movement ans stability dysfunction – contemporary develop
ments. Man Ther. 2001;6(1):15-26.
33. Hides JA, Jull GA, Richardson CA. Long-term effects of specific stabilizing exercises for
first-episode low back pain. Spine. 2001;26(11):E243-248.

Equílibrio e controle da pelve em apoio unilateral


Exercicio importante nos ganhos de propriocepção e estabilidade, construindo uma base sólida para execução de muitos movimentos ativando conjuntamente: Glúteos e Isquiotibiais e desenvolvendo controle do ritmo lombo-pélvico. Tendo em vista isso , acho necessário analisar a cinesiologia do apoio unilateral, que nos fornece uma boa base teórica para a análise desse movimento.

Com o apoio bilateral a pelve é estabilizada pela a ação simultânea e bilateral de adutores e abdutores do quadril. Já em apoio unilateral, o equilibrio transversal da pelve é assegurado unicamente pela ação dos abdutores do lado do apoio.

Considerando a cintura pélvica como uma alavanca de primeiro grau, onde a resistencia é o peso do corpo aplicado no CG, o ponto fixo , representado pela articulação coxo femoral do apoio e a potencia pela força do Gluteo médio, temos que para que o quadril fique em uma posição horizontal em apoio unilateral, a força do Glúteo médio ( juntamente com o glúteo minimo e o TFL) seja suficiente para equilibrar o peso do corpo, levando-se em consideração a desigualdade dos braços de alavanca.

Quando um desses musculos esta insufiente, a pelve se inclina para o lado oposto em um ângulo proporcional a magnitude da insuficiencia ( Sinal de Trendelemburg ) . A insuficiência do TFL pode além de comprometer o equilíbrio da pelve, afetar também o equilibrio do joelho, favorecendo uma separação da interlinha articular do joelho.

A medida que se modifica o grau de flexão de quadril em apoio unilateral, abdutores diferentes agem no equilíbrio pélvico.

COM O QUADRIL EM EXTENSÃO- O CG se desloca para trás da linha do quadril e a bascula posterior é impedida pela tensão no lig. de Bertin ou iliofemoral (figura abaixo) e pela ação do TFL, que é abdutor e flexor , corrigindo portanto a bascula posteriore lateral da pelve.

COM A PELVE UM POUCO INCLINADA PARA TRÁS - A medida que a pelve desloca-se para trás, o CG encaminha-se na direção posterior em relação a linha dos quadris e o glúteo mínimo começa a entrar em ação - o glúteo mínimo é outro abdutor e flexor , assim como o TFL.

PELVE EQUILIBRADA NO PLANO SAGITAL- O CG está na linha do quadril e a pelve é estabilizada lateralmente pelo Glúteo médio.

PELVE BASCULANDO PARA FRENTE - Entra em ação o Glúteo máximo, juntamente com o piramidal , o obturador interno e o quadrado da coxa. A medida que se aumenta a flexão do tronco estes musculos que são abdutores (quadril fletido) e extensores permitem estabilizar a pelve simultaneamente nos plano frontal e sagital.




Como vimos a ação dos abdutores é de suma importancia no processo de equilíbrio da pelve em apoio unilateral e devemos lembrar que esse equilíbrio pe de fundamental importancia nas ações de marcha e consequentemente na corrida devido a sua fase de apoio unipodal, com isso considero de fundamental importancia a ativação destes musculos para corredores, tanto de maneira analítica como de maneira integrada.

Aptidão Física na Vida Diária

Dr. José Maria Santarem

O aprimoramento das qualidades de aptidão física tem evidente importância quando existe o objetivo de realizar grandes esforços, como no caso da prática esportiva. No entanto, os esforços da vida diária exigem aptidão em níveis adequados para que as atividades sejam possíveis e não representem fatores de desconforto ou risco de lesões músculo-esqueléticas e acidentes cardiovasculares. Neste sentido é importante o conhecimento dos efeitos das diversas qualidades de aptidão nas atividades diárias comuns, para que intervenções com exercícios sejam eficientes. Pessoas idosas costumam apresentar perda progressiva da aptidão geral, como conseqüência do sedentarismo prolongado. Paralelamente, processos patológicos podem limitar a capacidade de realizar exercícios, justificando que as intervenções com atividade física sejam criteriosas e objetivas.

O sedentarismo ou a hipocinesia induzida por doenças levam a uma redução gradativa e às vezes acentuada das qualidades de aptidão física, podendo comprometer seriamente a capacidade de realizar atividades diárias, dificultando a locomoção, aumentando os riscos de quedas e criando situações de risco cardiovascular nos esforços habituais. As qualidades de aptidão física que mais comprometem a qualidade de vida quando reduzidas são força e flexibilidade.

Com relação à flexibilidade, a sua redução pode dificultar a realização de movimentos ou até mesmo impedi-los (40). No entanto, mesmo na presença de processos degenerativos ou inflamatórios crônicos das articulações, é possível promover ganhos de flexibilidade. Aspecto relevante é que os exercícios habitualmente utilizados para induzir melhorias na força muscular, também promovem ganhos de amplitude articular, até os limites permitidos pelas alterações patológicas.

Ainda do ponto de vista biomecânico, a força muscular também é fundamental para a realização dos movimentos (40). Tomando como exemplo a ação de levantar de uma cadeira, sabe-se que uma pessoa jovem utiliza em média 50% da força do músculo quadríceps para levantar lentamente, e cerca de 70% da força disponível para levantar rápido; uma pessoa de 80 anos, sedentária, utiliza em média 90% da força do quadríceps para levantar lentamente, e seria necessário 120% da força disponível para levantar rápido. Portanto, a realização dos movimentos necessários para a vida diária depende de graus relativamente elevados de força muscular. Particularmente o trabalho braçal, profissional ou doméstico, é muito dependente da força e da resistência dos músculos esqueléticos. Os exercícios mais utilizados para aumento da força dos músculos também são os mais eficientes para promover a chamada “RML” (Resistência Muscular Localizada), permitindo prolongar as atividades intensas.

A capacidade de manter o equilíbrio do corpo é importante para diminuir o risco de quedas (40). A redução da força muscular parece ser o principal responsável pelo aumento da incidência de quedas em pessoas idosas, tendo importância secundária a redução dos reflexos posturais. Mesmo com reflexos presentes, a queda pode ser inevitável se os efetores finais que são os músculos esqueléticos estiverem fracos.

A capacidade de locomoção pode ser seriamente afetada pela redução da força muscular (40). Para a que a marcha seja possível, confortável e segura, a força é a aptidão mais importante. A capacidade de manutenção da postura, do equilíbrio e de aceleração para os passos dependem diretamente da força muscular. Resistência para caminhar significa poder prolongar a marcha confortavelmente. Esta condição depende da capacidade aeróbia, medida pelo limiar anaeróbio e muito estimulada pelo aumento da força muscular. Como já vimos, o limiar anaeróbio é a intensidade de esforço acima da qual a produção energética não pode ser mantida apenas pela via metabólica aeróbia. Sempre que as fibras musculares individualmente apresentam discretos graus de força, a tensão necessária para o movimento é conseguida com o recrutamento de maior número de fibras. Pessoas fortes caminham com ativação de poucas unidades motoras, enquanto que pessoas fracas utilizam muitas fibras para a marcha. Visto que quando mais do que 30 a 40% das fibras musculares são ativadas a produção energética não pode ser realizada exclusivamente pela via metabólica aeróbia, nestas situações ocorre produção de ácido láctico e conseqüente aumento de lactato no sangue. Muitos idosos debilitados caminham anaerobiamente, com desconforto e fadiga precoce. O quadro clínico é o de claudicação intermitente, com o repouso permitindo continuar a marcha por mais alguns passos. Pessoas debilitadas tem limiar anaeróbio baixo porque pequenas intensidades de esforço já solicitam mais de 40% das fibras musculares. O aumento da força muscular aumenta o limiar anaeróbio e a capacidade aeróbia, o que aumenta a resistência para esforços em geral (59).

Aspecto ainda pouco divulgado é que a força muscular também é importante para diminuir o risco de acidentes cardiovasculares nos esforços da vida diária. Isto ocorre porque as pessoas mais fortes realizam as atividades com menor número de fibras musculares, comparativamente com pessoas mais debilitadas. A utilização de menor número de unidades motoras ativa menos os ergoceptores musculares, que são terminações nervosas livres dispersas entre as fibras (66). A ativação dos ergoceptores desencadeia por mecanismos reflexos o aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial, além do aumento da freqüência respiratória. Assim sendo, pessoas mais fortes realizam tarefas com menores alterações hemodinâmicas do que pessoas debilitadas, apresentando nos esforços menores valores de duplo-produto (Freqüência Cardíaca x Pressão Arterial Sistólica). Assim sendo, as pessoas com músculos mais fortes realizam esforços com menores riscos cardiovasculares e com maior conforto respiratório (61, 78).

Todas as pessoas perdem massa muscular e força após a maturidade. A perda de massa muscular ocorre basicamente devido a processo degenerativo do sistema nervoso, que leva ao desaparecimento de motoneurônios no corno anterior da medula espinal. Dessa maneira, algumas fibras brancas entram em processo de atrofia total. Com muita freqüência, associa-se a esse processo involutivo a hipotrofia de desuso, que não acomete apenas as pessoas sedentárias. As atividades físicas que não impõem aos músculos esqueléticos situações de tensão mais elevada, como por exemplo as atividades aeróbias, não impedem a hipotrofia de desuso no envelhecimento (51). Idosos que envelheceram praticando corrida e natação apresentaram parâmetros de saúde e aptidão superiores aos que envelheceram sedentários, mas a massa muscular decaiu nos mesmos níveis. No entanto, idosos treinados com exercícios de força preservaram massa muscular. A diminuição da velocidade dos movimentos apresenta paralelismo com a redução de massa muscular: idosos treinados em exercícios de força preservaram também a velocidade dos movimentos. Sem treinamento adequado, são esperadas reduções de massa muscular em torno de 10% dos 25 aos 50 anos, e de 30% dos 50 aos 80 anos. Por outro lado, já está documentado que os exercícios de força em mulheres idosas pode aumentar em até 10% a massa muscular e em até 200% a força, em poucos meses de treinamento.

1. GURALNIK J.M., FERRUCI L., SIMONSICK E.M. et al. Lower-extremity function in persons over the age of 70 years as a predictor of subsequent disability. N Engl J Med 1995, 332: 556-61.

2. KLITGAARD H., MANTONI M., SCHIAFFINO S.. Function, morphology and protein expression of ageing skeletal muscle: a cross-sectional study of elderly men with different training backgrounds. Acta Physiol Scand 1990 ,140:41-54.

3. MARCINIK E.J., POTTS J., SCHLABACH G. et al. Effects of strength training on lactate threshold and endurance performance. Med Sci Sports Exerc, 1991, 23(6): 739-743.

4. McCARTNEY N., McKELVIE R.S., MARTIN J. et al. Weight-training-induced attenuation of the circulatory response of older males to weight lifting. J Appl Physiol, 1993, 74(3):1056-60.

5. MENSE S., SIMONS D.G. Local pain in muscles. In MENSE S., SIMONS D.G. Muscle Pain: understanding its nature, diagnosis and treatment. Lippincott Williams & Wilkins, 2.001, USA, cap. 2, p. 41-42.

6. SALE D.G., MOROZ D.E., MCKELVIE R.S. et al. Effect of training on the blood pressure response to weight lifting. Can J Appl Physiol, 1994, 19(1): 60-74.

Dor Miofascial


Introdução

Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM) é uma condição musculoesquelética caracterizada por dor local e referida percebida como profunda e dolorida, e pela presença de pontos-gatilho em qualquer região do organismo.

Epidemiologia

  • Poucos estudos epidemiológicos tem investigado a prevalência ou incidência de pontos de gatilho na SDM.
Um estudo encontrou pontos-gatilho em 30 % dos pacientes que consultaram o atendimento primário por causa da dor e um segundo estudo relatou pontos de gatilho em 85 % dos pacientes que visitaram o atendimento terciário por queixas dolorosas.
  • Pesquisas tem demonstrado que os pontos-gatilho estão associados a outras condições dolorosas, incluindo enxaqueca, cefaléia tensional, disfunções da articulação têmporo-mandibular, cervicalgias, dores em ombros, epicondilite, sindrome do tunel do carpo, lombalgias, dores pélvicas e lesões pós traumáticas.
Fisiopatologia
A fisiopatologia dos pontos-gatilho não é completamente esclarecida, e um número de alterações morfológicas, de neurotransmissores, neurossensoriais, eletrofisiológicas e motoras tem sido implicadas em sua patogênese:
  • Alterações morfológicas: Um significante aumento da rigidez tem sido encontrado nas bandas musculares e nos pontos-gatilho
  • Neurotransmissores: Elevado nivel de neuropeptidios (exemplo: substância P ou peptidio relacionado ao gene de calcitonina), catecolaminas (Norepinefrina) e citocinas pró-inflamatorias ( TNF alfa, Interleucina 1 beta, interleucina 6, interleucina 8) tem sido encontrados nos pontos-gatilho
  • Características neurosensoriais: dor referida que se espalha, hipersensibilidade para estímulo nociceptivo (hiperalgesia) e ao estímulo não nociceptivo (alodinea), sensibilidade à dor mecanica, hiperatividade simpática, facilitação para dor local e referida e atenuação da resposta vascular.
  • Eletrofisiologia: muitos estudos tem encontrado atividade elétrica espontânea, atribuída ao aumento dos potenciais de placa terminal em miniatura e maior liberação de acetilcolina nos pontos-gatilho, apesar de necessitarmos de mais estudos futuros para esta confirmação.
  • Prejuízo Motor: pontos-gatilho miofasciais pode induzir mudanças nos padrões de ativação muscular normal e resultar em disfunção motora
Caracteristicas clínicas

  • A estimulação de pontos-gatilho ocasionam dores referidas
  • A duração das dores referidas é variável (segundos, horas, dias)
  • A dor referida é percebida como profunda, dolorida, queimação e às vezes pode ser percebida como dor superficial
  • A dor referida pode se espalhar caudalmente ou cranialmente
  • A intensidade e a área de expansão da dor referida estão positivamente correlacionada com o grau de atividade do ponto-gatilho.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Os critérios diagnósticos para pontos-gatilho estão em Debate, porém existem 3 critérios diagnósticos mínimos (1-3) e 6 de confirmação(4-9):

1-Presença de banda tensa palpável em musculo esquelético
2-Presença de área de hipersensibilidade dentro da uma banda tensa muscular
3- Reprodução da sensação de dor referida com estimulação do nódulo doloroso
4-Evocação de reação contrátil visualmente ou á palpação da banda tensa
5- Presença de “sinal do pulo” ou seja, reação de retirada a palpação dos nódulos
6-Paciente reconhece a dor que sente ao exame de palpação muscular
7-Previsão de padrões de dor referida
8-Fraqueza muscular e músculo em aperto
9-Dor com alongamento ou contração do musculo afetado
Diagnóstico e Tratamento
A terapêutica dos pontos-gatilho e da SDM é multimodal. As intervenções mais comumente utilizados são os seguintes:

  • Massagem, compressão isquêmica, liberação ou deslizamento miofascial, e outras intervenções dos tecidos moles (como energia muscular) mostraram de moderada a forte evidência para alívio imediato da dor.
  • Agulhamento de pontos-gatilho tem mostrado benefícios clínicos, mas são necessários mais estudos.
  • A terapia com laser apresenta fortes evidências de eficácia para o alívio da dor.
  • A estimulação elétrica transcutânea (TENS) e terapia magnética mostraram evidência moderada imediata sobre os pontos-gatilho miofasciais.
  • O exercício tem mostrado benefício moderado e pode incluir alongamentos e amplitude de movimento, fortalecimento, resistência, ou exercícios de coordenação.
  • Ultra-som terapêutico tem fraca evidência de eficácia nos pontos-gatilho.
Tradução: Dra. Fabiola Peixoto Minson

Referências:
1. Fernández de las Peñas C, Cuadrado ML, Arendt-Nielsen L, Simons DG, Pareja JA. Myofascial trigger points and
sensitisation: an updated pain model for tension type headache. Cephalalgia 2007;27:383–93.
2. Simons D, Travell J, Simons P. Travell & Simons’ myofascial pain & dysfunction: the trigger point manual. Baltimore:
Williams & Wilkins; 1999.
3. Tough EA, White AR, Cummings TM, Richards SH, Campbell JL. Acupuncture and dry needling in the management of
myofascial trigger point pain: a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Eur J Pain
2009;13:3–10.
4. Vernon H, Schneider M. Chiropractic management of myofascial trigger points and myofascial pain syndrome: a
systematic review of the literature. J Manipulative Physiol Ther 2009;32:14–24.

Exercício e Saúde

Em toda a história da humanidade, a atividade física vigorosa sempre esteve associada com a imagem de pessoas saudáveis. Basta lembrarmos dos jogos olímpicos que começaram na Grécia 776 antes de Cristo! Mens sana in corpore sano, diziam os romanos.

Popularmente existe a tendência para considerar todas as pessoas iguais, sendo as diferenças individuais atribuídas a fatores ambientais tais como hábitos de vida e alimentação, entre outros, e esquece-se os fatores hereditários, genéticos. É importante lembrar que a saúde das pessoas repousa sobre duas colunas : a constituição genética e as condições ambientais. Entretanto, agora, vamos dedicar-nos a estas últimas, porque a consciência e a preocupação com as heranças genéticas, não deve levar à posição de negligência do papel dos fatores ambientais. Dentre estes, que estimulam a saúde das pessoas, estão os exercícios físicos, ao lado da boa alimentação, da higiene, das imunizações, da vida em ambiente saudável, do sono e da recuperação adequada dos esforços físicos e mentais.

Consideração de importância é a de que os benefícios do exercício são comuns à todos os tipos de atividade física, esportiva ou laborativa, desde que os esforços não sejam excessivos em relação à condição física da pessoa. O exercício é uma forma de sobrecarga para o organismo. Sobrecargas bem dosadas estimulam adaptações de aprimoramento funcional de todos os órgãos envolvidos, mas quando excessivas, produzem lesões ou deterioração da função. O sedentarismo caracteriza-se por uma ausência de sobrecargas para todo o sistema neuro-músculo-esquelético e metabólico, levando ao enfraquecimento progressivo de estruturas com funções biomecânicas, e à alterações funcionais que estatisticamente se correlacionam com maior incidência ou gravidade de doenças. Com base em estudos epidemiológicos e fisiopatológicos, formou-se o consenso de que os exercícios estimulam a saúde em diversos aspectos:

  1. Alívio de tensões emocionais: a atividade física é reconhecida como uma forma eficiente de aliviar o stress emocional, diminuindo assim um importante fator de risco para diversas doenças crônicas.
  2. Melhora da composição sanguínea: os exercícios em geral tendem a normalizar os níveis de glicose, gorduras e diversas outras substâncias no sangue, que podem estar alterados e trazer riscos aos portadores.
  3. Redução da pressão arterial: pessoas ativas fisicamente tendem a ter níveis pressóricos mais baixos, e os exercícios em geral auxiliam a diminuir a pressão arterial dos hipertensos.
  4. Estímulo ao emagrecimento: qualquer tipo de exercício estimula a redução da gordura corporal, diminuindo assim a possibilidade da pessoa desenvolver doenças como a aterosclerose, o diabetes e outras.
  5. Aumento da densidade óssea: o sedentarismo leva à uma diminuição progressiva da resistência óssea, aumentando o risco de fraturas, e os exercícios físicos constituem recurso de alta relevância para evitar e reverter essa situação.
  6. Aumento da massa muscular: a atividade física habitual leva à um aumento do volume e força dos músculos, protegendo as articulações e favorecendo a aptidão física.
  7. Desenvolvimento da aptidão física: os exercícios aumentam a capacidade das pessoas realizarem esforços, permitindo assim maior autonomia motora, condição conhecida como boa qualidade de vida.

Um dos aspectos que não pode ser esquecido, em função de sua importância para a vida em sociedade, é a deterioração da forma do corpo conseqüente ao sedentarismo. A falta de exercícios leva à diminuição progressiva da massa muscular e à tendência para o acúmulo de gordura. Tendo os músculos consistência firme e formas arredondadas, sua função é modeladora, tanto no homem quanto na mulher. O tecido adiposo, de consistência flácida e sem forma definida, é o elemento deformante do corpo.

Nas cidades, a solução mais habitual para o sedentarismo imposto pelo trabalho intelectual são as atividades esportivas. Clubes, academias e empresas que fabricam equipamento profissional e doméstico para ginástica proliferam nas regiões urbanizadas de todo o planeta, em consonância com a consciência das pessoas quanto à necessidade de atividade física. Atividades recreacionais como caminhadas, passeios ciclísticos, pescarias, camping e náutica também envolvem razoável e benéfica atividade física, mas devido ao seu caráter geralmente esporádico, devem ser complementadas com outras formas de exercício mais freqüente.

Uma questão que costuma receber ênfase injustificada é a indicação da atividade física supostamente ideal. O que se pode afirmar do ponto de vista do conhecimento científico é que todas as formas de exercício possuem mais ou menos os mesmos efeitos salutares acima elencados. Assim sendo, não se justifica classificar as diversas atividades físicas como mais ou menos salutares, a não ser que se considere a incidência de traumas, que evidentemente pode variar entre as diversas formas de exercício. A opção por uma ou outra forma de atividade física deve ficar por conta do prazer que cada pessoa encontra na sua prática. Pessoas extrovertidas costumam apreciar atividades coletivas com bola e ao ar livre, nos clubes e praças esportivas. As pessoas mais introvertidas geralmente preferem atividades individuais em academias, e quando as suas personalidades não são adequadas nem para estes locais, os exercícios em casa podem ser os ideais.

Algumas atividades esportivas exigem um grau mínimo de aptidão física, abaixo da qual não é possível a sua prática. Quando uma pessoa pretende dedicar-se à alguma modalidade de esporte para a qual não está preparado, deve iniciar um programa de condicionamento físico para melhorar seus níveis de aptidão.

Independentemente do tipo de atividade, aspecto de alta relevância é adequar o grau de esforço do exercício à condição física atual da pessoa. Qualquer tipo de exercício pode ser graduado nas suas características de realização, podendo então ser classificado como suave, moderado ou exaustivo, de acordo com o nível de sobrecargas impostas ao organismo. Evidentemente as pessoas descondicionadas devem iniciar as atividades com exercícios suaves. Frequentemente alguns profissionais utilizam o termo “aeróbico” e “anaeróbico” para fazer referência à exercícios suaves ou pesados, o que caracteriza uso incorreto destas palavras e erro de grafia, pois o correto são aeróbio e anaeróbio. Tanto as atividades aeróbias quanto as anaeróbias podem ser suaves, moderadas ou exaustivas.

Escolhido o tipo de exercício com base na preferência e na condição física da pessoa, uma adequada orientação técnica é fundamental. Nos clubes e academias professores e técnicos poderão oferecer a orientação adequada em cada modalidade esportiva. Para as pessoas que preferirem os exercícios domésticos, é importante seguir as orientações dos equipamentos utilizados, geralmente fornecidos por meio de folhetos ou vídeos. Qualquer dúvida deverá ser esclarecida com profissionais de educação física, muitos dos quais estão se dedicando à função de treinadores pessoais.

A avaliação inicial de alguém que deseja iniciar um programa de condicionamento físico é um outro aspecto que merece algumas considerações. As recomendações para atividade física de populações estabelecidas pelos "Centers for Disease Control and Prevention" e pelo "American College of Sports Medicina", dos Estados Unidos (Pate et al, 1995), esclarecem que a maioria das pessoas adultas não necessitam consulta médica antes de iniciar um programa de exercícios suaves ou moderados. Homens acima de 40 anos e mulheres acima de 50 anos, devem consultar um médico nas seguintes situações: desejo de praticar exercícios intensos; quando apresentarem doenças crônicas do tipo diabetes, hipertensão arterial e aterosclerose; quando apresentarem fatores de risco para doenças crônicas tais como tabagismo e obesidade. Na consulta médica serão avaliados os antecedentes familiares e pessoais, os sinais e sintomas de doenças em geral, e exames laboratoriais poderão estar indicados. Um deles é o eletrocardiograma realizado durante exercício em bicicleta ergométrica ou esteira, que pode evidenciar estágios iniciais de doenças cardíacas, caso em que estarão contra-indicados exercícios exaustivos de qualquer tipo. Avaliação detalhada da composição corporal e das qualidades de aptidão não é uma necessidade para realizar exercícios com segurança e eficiência, desde que as pessoas sejam bem orientadas por um profissional competente. Mudanças de hábitos alimentares podem ser necessárias para que as pessoas possam atingir os seus objetivos, e neste caso uma consulta com nutricionista poderá ser importante.

Publicado em 29.09.1998

Exercício Físico e Osteoporose

Embora em termos de saúde pública, em muitos paises, existam doenças mais importantes do que a osteoporose, é um fato que considerável parcela da população dessas nações apresenta ou virá a apresentar conseqüências mais ou menos graves da diminuição da massa óssea. Estima-se que nos Estados Unidos da América do Norte o número de pessoas com osteoporose esteja entre 15 e 20 milhões, levando à uma incidência anual média de 1,3 milhões de fraturas, com o custo aproximado de 3,8 bilhões de dólares. A idade crítica para as mulheres, com relação à osteoporose, é a menopausa, e para os homens, os 80 anos. A perda óssea em mulheres começa aos 35 anos e progride 1% ao ano até a menopausa. Nos 4 à 5 anos após o término das menstruações, as mulheres perdem de 2 à 4 % ao ano, e depois voltam aos níveis de perda em torno de 1 % ao ano. Nos homens a perda começa aos 45 anos e é cerca de 0,5 % ao ano, continuadamente. A importância clínica da osteoporose está no aumento da incidência de fraturas. A osteoporose tipo I (pós-menopausa) manifesta-se com fraturas principalmente de rádio e vértebras. A osteoporose tipo II (senil) manifesta-se mais com fratura do colo do fêmur, em pessoas acima dos 60 anos. Aos 70 anos de idade, 25 % das mulheres apresentam fraturas de corpos vertebrais, às vezes assintomáticas.

A massa óssea depende de fatores genéticos, nutricionais, hormonais e ambientais, sendo críticos os níveis de atividade física (Christiansen, 1995; Johnston, 1995; Kreipe, 1995; Silver & Einhorn, 1995; Zigler et al, 1995). Algumas pessoas, geralmente mulheres brancas, apresentam geneticamente poucos receptores para vit. D, o que leva à absorção intestinal de cálcio diminuida. Nessas pessoas a ingestão ideal de cálcio e vit. D pode ser importante para a manutenção da massa óssea, particularmente das primeiras duas décadas de vida. Nesse período atinge-se a máxima massa óssea possivel, que posteriormente tende a diminuir. Níveis adequados de atividade física na juventude também são importantes para que as pessoas alcancem uma boa massa óssea máxima, que se admite ser o parâmetro mais importante para se prever a osteoporose futura. Na meia idade, a baixa ingestão de cálcio e a falta de atividade física levam à diminuição progressiva da massa óssea. Na menopausa o fator crítico é a queda dos níveis de estrógeno, o que diminui a absorção intestinal de cálcio e aumenta a sensibilidade dos ossos à ação de absorção do paratormônio. Como os homens costumam manter atividade física de maneira mais consistente do que as mulheres, e como não há queda abrupta na produção dos hormônios sexuais, os problemas da osteoporose aparecem em idade mais avançada no sexo masculino. Para as mulheres na menopausa, a maior parte dos estudiosos do tema preconizam atualmente a reposição hormonal, exercícios físicos e ingestão adequada de cálcio e vit.D. Diagnosticada a osteoporose, o tratamento geralmente inclui drogas como a calcitonina, o fluoreto de sódio, os bifosfonatos, e outras, dependendo da condição ser do tipo I ou II.

Como vimos, os exercícios físicos (Fielding, 1995; Kohrt, 1995; Lohman et al, 1995; Martin & Houston, 1987; Smith & Raab, 1986; Stone, 1988) fazem parte tanto da profilaxia da osteoporose, na juventude e na idade adulta, como também do tratamento. A exata maneira pela qual os exercícios físicos exercem estímulos ao aumento da massa óssea ainda não está esclarecida. Sabe-se que dois fatores são importantes: a tensão dada pelo suporte de cargas e a contração muscular, sendo o primeiro mais atuante do que o segundo. Pessoas acamadas que realizavam 4 horas diárias de exercício intenso em cicloergômetro, deitados de costas, não conseguiram reverter a perda óssea da inatividade. Por outro lado, pessoas nas mesmas condições que conseguiam permanecer em pé durante 3 horas diárias, impediram a perda óssea. Estudos com atletas também permitiram algumas observações importantes: o aumento da densidade óssea ocorre nas regiões estimuladas por sobrecarga gravitacional ou por contrações musculares razoavelmente intensas. Verificou-se que a natação produz massa óssea ligeiramente acima do normal, discretamente superada por "jogging" e caminhadas. Futebolistas e corredores de velocidade vem a seguir, com maior massa óssea. Acima desses atletas aparecem os corredores de longa distância, e com ainda maior massa óssea, os atletas treinados com pesos. Os mais altos níveis de densidade óssea ocorrem entre levantadores de peso. Essas observações permitem concluir que os efeitos osteogênicos dos exercícios parecem ser máximos nos esforços curtos de alta intensidade ou nos esforços moderados de longa duração. Atividades muito suaves ou sem ação da gravidade não produzem aumento significativo de massa óssea. A possibilidade de que fatores genéticos e nutricionais fossem variáveis de confusão na comparação entre atletas e sedentários parece ser anulada pela observação de que tenistas e outros atletas com padrão assimétrico de desempenho, apresentam maior massa óssea no membro dominante. Tenistas chegam a apresentar 30 % mais espessura na cortical dos ossos do braço e ante-braço dominantes em relação ao lado oposto. Maior densidade óssea no ante-braço ocorre apenas nas atividades que envolvem esforços intensos com as mãos.

Alguns estudos permitiram identificar mecanismos pelos quais os exercícios físicos estimulam o aumento de massa óssea. O processo de remodelagem do osso ocorre quando as forças mecânicas dobram ligeiramente o órgão, produzindo cargas elétricas negativas na região côncava e positivas na convexa. Cálcio e fósforo acumulam-se na região côncava e são reabsorvidos da região convexa. Imagina-se que a hipertrofia do osso em função do exercício segue o modelo da hipertrofia muscular: o stress físico produziria micro-lesões; os osteoclastos removeriam as estruturas lesadas; os osteoblastos reporiam matriz calcificada na área, em maior quantidade do que a removida. Excesso de destruição levaria ao enfraquecimento do osso devido à incapacidade dos osteoblastos repararem as micro-lesões. Tal como em toda forma de sobrecarga, os níveis de intensidade para produzir incrementos da função solicitada são acima dos níveis habituais de homeostase e abaixo dos níveis de lesão. No músculo esquelético já se identificou uma substância mitógena produzida pela lesão celular no exercício, e que atua no processo de aumento de massa muscular. Imagina-se que as micro-lesões da sobrecarga tensional estimule o tecido ósseo a produzir alguma substância estimulante da osteogênese. Outra possibilidade é um mecanismo alternativo ou sinérgico ao anterior, onde se postula a existência de mecanoreceptores no osso, regulados por hormônios sexuais, que transformariam estímulos de tensão em estímulos bioquímicos para a osteogênese. Sabe-se que os exercícios funcionam melhor como estimulantes da osteogênese na presença de hormônios sexuais. Um aspecto relevante é que os exercícios aumentam os níveis de hormônios sexuais e hormônio do crescimento proporcionalmente à sua intensidade. Os exercícios com pesos são os mais eficientes para aumentar a massa óssea, e também os que mais estimulam esses hormônios anabolizantes. A relação testosterona / cortisol reflete o estado anabólico e está aumentada significantemente nos exercícios com pesos, contribuindo para o aumento da massa muscular e óssea. Excesso de treinamento produz efeitos contrários. Similarmente ao aumento da sensibilidade à insulina produzida pelos exercícios físicos, imagina-se uma maior sensibilidade do tecido ósseo aos hormônios estimulantes da mineralização, induzida particularmente pelos exercícios com cargas, e provavelmente pelo mecanismo de aumento numérico de receptores hormonais.

Atualmente sabe-se que os exercícios com pesos não são apenas os mais eficientes para aumentar a massa óssea, mas também para aumentar a massa e a força dos músculos esqueléticos. Adicionalmente, melhoram a flexibilidade e a coordenação, evitando quedas em pessoas idosas, que poderiam produzir fraturas em ossos osteoporóticos. Outra qualidade dos exercícios com pesos que justifica a sua utilização nas faixas etárias onde a osteoporose constitui problema, é a sua segurança. A incidência de lesões é muito reduzida em função da ausência de choques entre pessoas, de movimentos violentos, e mínimo risco de quedas. Também se demonstrou que a segurança cardiológica nos exercícios com pesos bem orientados é superior à de exercícios de média intensidade realizados de maneira contínua, onde o aumento da freqüência cardíaca pode ser fator patogênico importante.

Resumindo a situação dos exercícios físicos em relação à osteoporose: a sua importância é grande tanto para a profilaxia quanto para o tratamento dessa condição. A sua utilização deve ocorrer desde a infância, nos anos onde se atinge a massa óssea máxima. Por mecanismos ainda pouco esclarecidos, os exercícios mais eficientes são os que implicam em suporte de cargas e contrações musculares fortes. Dentre esses tipos de exercícios, os mais seguros e práticos são os exercícios com pesos.

Bibliografias recomendadas:

Christiansen C. Osteoporosis: diagnosis and management today and tomorrow. Bone, 17: 5 Suppl, 513S-516S, 1995.

Fielding RA. The role of progressive resistance training and nutrition in the preservation of lean body mass in the elderly. J Am Coll Nutr, 14:6, 587-94, 1995.

Johston CC Jr, Slemeda CW. Pathogenesis of osteoporosis. Bone, 17: 2 Suppl, 19S-22S, 1995.

Kohrt WM, Snead DB, Slatopolsky E, et al. Additive effects of weight-bearing exercise and estrogen on bone mineral density in older women. J Bone Miner Res, 10:9, 1303-11, 1995.

Kreipe RE. Bone mineral density in adolescents. Pediatr Ann, 24: 6, 308-15, 1995.

Lohman T, Going S, Pamenter R, et al. Effects of resistance training on regional and total bone mineral density in premenopausal women: a randomized prospective study. J Bone Miner Res, 10: 7, 1015-24, 1995.

Martin AD, Houston CS. Osteoporosis, calcium and physical activity. Can Med Assoc J, 135:15, 1987.

Silver JJ, Einhorn TA. Osteoporosis and aging. Clin Orthop, 316, 10-20, 1995.

Smith EL, Raab DM. Osteoporosis and physical activity. Acta Med Scand, Suppl. 711: 149-156, 1986.

Stone MH. Implication for connective tissue and bone alteration resulting from resistance exercise training. Med Sci Sports Exerc, 20 (5): S162, 1988.

Ziegler R, Scheidt-Nave C, Scharla S. Pathophysiology of osteoporosis: unresolved problems and new insights. J Nutr, 125: 7 Suppl, 2033S-2037S, 1995.


Publicado em 07.11.1998